Segundo Sainsaulieu o local de trabalho é um espaço de socialização importante para os indivíduos. É um espaço de socialização secundário, após a escola e a família, modela comportamentos e atitudes produzindo uma identidade social e Professional.
As identificações que o individuo pode assumir na organização estão ligadas:
- Ao trabalho que realiza, sendo que quanto mais rigorosa, maior a probabilidade de resultar em progresso profissional;
- Com a empresa, e, nesse caso, o resultado é um sentimento de protecção por parte do indivíduo;
- Com uma trajectória, instituindo uma identidade, modelada num projecto pessoal que o indivíduo imagina para si no trabalho, ou seja, a sua identidade.
Segundo o autor, na construção das identidades no trabalho são também importantes os tipos de relacionamentos, aos quais o indivíduo está submetido na empresa, geralmente mantidos numa hierarquia entre colegas ou com outras pessoas na empresa. Além desses agentes, os sistemas de representação existentes nas empresas são variáveis importantes no processo de constituição das identidades na esfera organizacional.
Para Sainsanlieu as representações ligadas à legitimação da autoridade na empresa, aquelas ligadas às finalidades do trabalho e da empresa, estão directamente relacionadas com o auto - conceito no trabalho.
O tipo de relações de trabalho e de poder que se encontra no universo empresarial influencia a construção de identidades. Com o estudo da identidade num ambiente com uma estrutura hierárquica rígida, Sainsanlieu observou que nas situações em que o indivíduo não tem capacidade nem independência para se opor aos colegas ou chefes, este interpreta a sua experiencia de trabalho como imaginária e alucinatória.
Observou também que havia uma tendência dos indivíduos em se diferenciarem dos seus colegas inferiores e se identificarem com seus superiores, numa tentativa de reduzir a sua distância social. Este tipo de identificação com os superiores pode ser também interpretada como resultado de uma avaliação permanente dos meios, de que o indivíduo dispõe para se ajustar no combate à ordem estabelecida, sustentando a sua diferença no sistema social no qual se insere. No entanto estes processos são obstáculos para a igualdade e o avanço entre grupos, em fase da tentação permanente do favoritismo, que pode se estabelecer entre os membros da organização, na tentativa de reduzir as dissonâncias e desigualdades.
A identidade no trabalho também se realiza no plano cognitivo e afectivo. O facto de viver sob uma estrutura cria uma espécie de mentalidade colectiva, com a qual o indivíduo se conforma, assimilando as suas normas e regras de comportamento e estabelecendo vínculos afectivos com as pessoas com as quais convive nesse espaço. Este processo pode derivar em identificações por parte do indivíduo, as quais podem conter significados distorcidos. Sobretudo quando os espaços de autonomia do indivíduo na organização são reduzidos, há a possibilidade de gerar processos de identificação que tenham uma natureza projectiva, nos quais o indivíduo se imagina no lugar do outro, buscando assim a destituição do lugar ocupado, ou os de natureza imitativa, quando o indivíduo copia o outro e procura viver a vida do outro.
Ao analisar a identidade no trabalho, especialmente em modelos organizacionais com predomínio das relações de trabalho modernas, as quais pressupõem uma certa autonomia dos indivíduos, Sainsanlieu verificou que existe pluralidade de modelos identitários no universo do trabalho, que se distinguem principalmente pelos tipos de socialização compartilhada entre os indivíduos e pelos seus modos de integração na empresa. Esta variedade de lógicas implica a possibilidade de existirem várias maneiras de se definir com relação às situações de trabalho e, diversos tipos de motivação que afectam os indivíduos. Sainsanlieu classificou seis modelos identitários, ordenados sob a variável coerência identitária, passando de variável, fraca a extremamente forte nos seguintes tipos, respectivamente: regulamentar; o comunitário; o profissional; o profissional de serviço público; o temporário; o empreendedor.
No ambiente de trabalho, tanto a identidade social como a pessoal pode ser feita, de acordo com as modalidades concretas de experiência.
A construção das identidades no trabalho não está desvinculada dos interesses pessoais e colectivos, que estão constantemente articulados nas organizações.
Os arranjos sociais que se desdobram nas empresas são dinâmicos e interpõem a memória dos seus integrantes. Os indivíduos seleccionam, assim, aqueles relacionamentos que constituirão parte do seu universo relacional, para que, a partir daí, tracem as experiências e os relacionamentos com os quais irão fazer face às pressões que objectivam elevar os espaços de poder na organização.
A identidade no trabalho constitui uma componente importante no processo motivacional, que concorre para a construção de uma auto - estima positiva. Consequentemente, não só a realização do trabalho, mas também a esfera social organizacional é positivamente afectada, podendo resultar em formas de trabalho mais criativas, que contribuem para integrar a socialização a subjectividade, e o trabalho.
Não resta dúvida de que a força dos processos de categorização na organização contribuirá para uma maior solidificação da identidade no trabalho, porque eles resultam em sentimentos de vinculação e diferenciação, que favorecem uma visão simbólica de si como integrante de um espaço imaginário na organização. Nesta atmosfera, simultaneamente, acontece um fenómeno que liga psiquicamente o indivíduo à organização, isto é, a identidade organizacional.
Elaborado por: Susana Magalhães, n.º 52306.
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